25.11.07

a menina [3]

a menina se ausentava, enquanto ganhava tempo para se esconder dentro de si. era a ausência pura e descomedida que ela temia e buscava. perdia os dons e os sons conquistados, e corria sob os ventos pareados aos pensamentos. e corria, corria. a menina tem uma dor que nunca sabe de onde vem. mas dói, dói tanto que às vezes se esquece que outras coisas mais lhe apetecem além da dor. esquece de cegar-se com o raiar do dia, de molhar-se mais com a chuva do que com as lágrimas e salivas que esmera. enlouquece com o silêncio que escolheu, e foge das palavras que lhe trazem encanto. aperfeiçoa-se na arte da desabilidade comportamental em relações afetivas. deseja tanto que não quer. não coleciona desafetos, mas desafeiçoa-se proporcionalmente ao desejo de iniciar sua maestria às funduras do racional. a menina se joga sobre tudo que teme, e acaba incrédula do próprio temor ao inescrupuloso. a menina teme o raiar do dia e as lágrimas do céu.

3 comentários:

Natália Nunes disse...

Esconderijo, ausência, loucura...

Ai de nós!

livia soares disse...

Olá, Marcella.
Acho que agora sim, consigo ver o retrato da menina - fragmentário e no entanto, coerente com sua busca.
Agora vc pode continuar (ou não) a nos mostrar a trajetória da menina... pelo menos já sabemos de quem se trata.
Um abraço.

Carlos Henrique Leiros disse...

A menina e o silêncio são meio parecidos, não?
Indefinidos em cada coisa, sutis nas palavras que conseguem transportar. Mas a falta de apego é recompensada amplamente com a lembrança, a memória, que a menina costuma vasculhar e catalogar com interesse. E quando se joga sai esparramando idéias.
Só precisa se deixar encantar!
Abraço do
Ch

 

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